A essência do destino
E se vai o tempo, sucedendo cada coisa velozmente e carregando consigo uma imensidão de importâncias. Saberemos onde e como encontrá-las? Ou como os demais veremos passar a carruagem do destino sem saber aonde vai e, com medo de tomar-lhe carona, ficaremos caminhando à margem da larga estrada da fatalidade?
Levantemos os olhos acima das muralhas de nossos monótonos dias mortais, sempre iguais, e sintamos a brisa, o vento a nos tocar a face...
...e nos encher o peito de uma imensidão de sentimentos que não deciframos e que, equivocadamente, relacionamos com algumas poucas impressões acerca de coisas concretas, que aprendemos a entender e aceitar como verdades.
Lamentamos o destino sem nenhuma fé e ainda, amaldiçoamos a fé que desconhecemos, simplesmente por sermos incapazes de compreendê-la e concebê-la. Justificamo-nos culpando as religiões, o fanatismo, a ambição dos homens e sua condição de mortais iguais a nós. Tudo isso porque somos incapazes...
...e sentimos tanta solidão por vezes...
...somente por não sabermos olhar o que está lá, bem no fundo de nós mesmos, onde encontraríamos a resposta que todas as religiões jamais poderão nos dar. Ou então, por medo de outras coisas que poderíamos encontrar.
Este sentimento que não conseguimos definir é a “Verdade”, o “Sentido da Existência” que não alcançamos, por nos ocuparmos somente com as coisas de nossa vida, nosso mundo, com a obstinação natural dos que não compreendem nada além.
Em todas, ou em cada coisa não feita pelas mãos do homem, está a resposta para todas as nossas perguntas.
Se soubermos sentir o vento, ele nos tocará mais doce e poderá até, trazer-nos os sons do plano etéreo.
As nuvens vagando no azul do céu com seu ritmo, e as cores que adquire aos reflexos do sol, podem te dizer como conduzir muitas coisas.
O balanço das folhas nas árvores, fala de um ritmo que jamais discorda do próprio movimento da vida por isso, suas folhas não caem antes que seja o tempo.
E as águas mansas beijam as pedras tornando-as lisas e proporcionando que até a vida brote nelas como musgo, que tão pequeno e frágil cumpre sua função de manter a umidade e propiciar a vida para outros vegetais e animais. As águas torrenciais carregam tudo quanto lhes é possível, e os elementos da natureza sejam eles quais forem, se não puderem com sua força simplesmente deixam-se carregar, e em algum momento hão de se colocar em outro lugar, para compor outro pequeno cenário, onde tudo pode mudar a todo momento, exatamente conforme a vontade da natureza. E quando digo natureza, me refiro à “Natureza das Coisas”, que foram concebidas já conforme o destino que lhes é dado.
Nenhuma árvore reclama o destino de ser partida por um raio ou morrer. Haverá sempre uma semente para germinar e outras árvores, da mesma espécie, brotarão e perecerão. A natureza pode lhe permitir viver centenas de anos para cumprir sua função e missão, mas ela jamais terá a pretensão de mudar o seu destino, ser única, ou permanecer eternamente viva, pois outras também vivem para cumprir a mesma função, embora cada coisa tenha sua missão específica, e ela, simplesmente grata, será bela e majestosa, florescerá e frutificará, servirá de abrigo para os parasitas e os ninhos dos pássaros. Sua sombra majestosa permitirá a vida nela e ao seu redor, enquanto assim for seu destino, enquanto tiver missão a cumprir, terá condições físicas de executar sua função.
A resposta ao início e fim de cada coisa está nela mesma, assim como a sua resposta está em você mesmo.
E não há solidão que resista ao som dos ventos sobre as coisas da natureza, aos pingos e ao cheiro da chuva, a alegria dos pássaros, ao grito de uma vida que começa rompendo o véu que separa os mundos, trazendo-a para este nosso, tão concreto, material e pesado, tendo que carregar a alma presa a uma forma tão estranha...
...ou o suspiro de um ser que se liberta e bem devagar, desacostumado, retorna ao nosso verdadeiro plano, o etéreo, leve e sem forma, pleno de pensamento e sentimentos puros, para onde voltaremos todos filtrados, e não seremos nada além de uma só energia, como sempre fomos, depurada das imperfeições que serão deixadas bem mais abaixo, ou além, ou fora, como queira.
Tudo como é certo estar, percorre de um lado ao outro a trajetória da roda do destino.
Todas as coisas criadas e vindas da “Infinita Perfeição”, separadas, só precisam se compreender a mesma essência para caminharem rumo ao ponto onde se juntam novamente.
Pois aceite ou não a nossa percepção limitada, assim foi antes que se formasse qualquer coisa, quando tudo ainda era uma força única e latente, e assim será, quando cada coisa criada perecer, até que tudo volte a ser energia novamente, agora luz ou trevas separadas.
Pois não há altares ou pódios a se alcançar, mas simplesmente, lados a se escolher.
Carmem L Marcos
Enviado por Carmem L Marcos em 09/09/2006