Sobre Liberdade...
Minha família foi partidária da liberdade absoluta, portanto não conheci limitações ou restrições na infância. Apesar disso, não deixei de me sentir tolhida, limitada. Percebi então, que isso era um processo que ocorria dentro de mim e não o resultado de fatores externos. Que a liberdade é muito mais que um simples “fazer tudo aquilo que se deseja” e que o indivíduo só é realmente livre, quando é senhor absoluto de suas atitudes. O jeito era esperar crescer.
Depois que eu cresci, achei que já estava pronta para ser livre, daí descobri que o ser humano é um especialista em criar prisões mentais para si mesmo. Podemos ser escravos do medo, do preconceito, da paixão, da ignorância, da culpa e de muitos outros sentimentos.
Suponhamos determinada mulher tenha uma posição social privilegiada, um relacionamento estável, seja uma mulher alinhada, mas... Não está feliz. Veja que o “não estar feliz” é elemento fundamental na análise, pois quem está feliz... Amém! As pessoas então, imediatamente culpam o casamento massacrante, ou o marido. Na verdade, a mulher possivelmente é escrava de seu medo. Medo da solidão, medo de perder o padrão de vida. Pode ser que ela seja refém de seu preconceito, que afirma o tempo todo em seu íntimo que o normal é estar casada em sua idade, ou ainda, que não pega bem ser divorciada. Às vezes ainda, ela permite lhe colocarem nas costas o fardo da culpa, pois coitadinho do fulano, ele sempre foi um homem tão bom! Como ela poderia deixá-lo por conta de uma sensaçãozinha incômoda de nada... Sensaçãozinha incômoda de nada?! Puxa vida heim garota! Não amar mais alguém, não sentir mais admiração e não ter mais os mesmos objetivos que essa pessoa é coisinha à toa? Ela, portanto, não passa de prisioneira de sua própria mente. Tem solução? Claro... Vai se tratar minha filha! Procure a sua religião, adote uma filosofia oriental, procure um analista, mas faça alguma coisa! O que não dá é pra passar a vida toda com essa sensação lá no fundo, de que tem algo que não se encaixa. E não comece a querer meter na cabeça que é algum ser sobrenatural que está amarrando a tua vida não. É você mesma... É você! Cuidado com sua mente, pois ela é poderosa. Ela é tão poderosa que faz com que você não seja capaz de perceber que é ela que produz todas as coisas ao seu redor. E se sua mente é capaz disso, por que não seria capaz de produzir demônios?
Partamos para outro exemplo no qual vocês diriam que a pessoa teve liberdade para agir. Um homem se apaixona por alguém perdidamente e larga tudo para ficar com ela. Deixa bens materiais, vínculos afetivos anteriores, enfrenta a opinião pública. Vocês me diriam que isso é uma demonstração de liberdade e eu diria que não. Na verdade, ele se encontra escravo da paixão, do desejo e isso, nem de longe, é condição que permita ao ser humano agir de acordo com sua razão, de maneira clara e consciente.
É meus amigos, como vocês podem ver a coisa tem um grau elevado de complexidade. A verdade é que nossa liberdade é tolhida pelo apego que desenvolvemos por certas coisas e situações, proporcionado por sentimentos limitantes que nós mesmos nutrimos.
Penso que estabelecer parâmetros pessoais de liberdade é como ser capaz de pintar um quadro. Quanto mais limitada é nossa visão, menos perspectiva terá a nossa obra. Será um simples desenho em primeiro plano. À medida que vamos nos libertando de sentimentos nocivos e derrubando nossos mitos, a perspectiva do quadro vai se apresentando progressivamente aos nossos olhos.
Hoje em dia posso tranqüilamente afirmar, após refletir demorada e honestamente, que liberdade para mim é adquirir condições de descobrir qual é a minha essência, minha própria natureza e independente das convenções estabelecidas, travar comigo mesma uma relação íntima de profunda franqueza.
Carmem L Marcos
Enviado por Carmem L Marcos em 16/11/2007
Alterado em 16/11/2007